Literatura e a nossa Língua Portuguesa (o que mais amamos)
O SOL É PARA TODOS - Harper Lee
22/07/2016 18:00
Resenha de O Sol é para todos
“O impacto da publicação e da contínua exposição de O sol é para todos o fez figurar em dezenas de listas e pesquisas, tendo sido escolhido pelo Library Journal como o melhor romance do século XX e eleito pelos leitores do Modern Library um dos 100 melhores romances em língua inglesa desde 1900. O livro apareceu pela primeira vez em uma lista feita por bibliotecários em 2006 como um dos livros que todos deveriam ler antes de morrer. Um clássico moderno que continua a emocionar jovens e adultos.” (Contracapa do livro)
Título: O Sol é para todos
Autora: Harper Lee
Editora: Olympio
Páginas: 349
Classificação da leitura:
Amei fazer esta resenha e senti novamente as emoções que tive ao ler O Sol é para todos!
Antes de lê-lo ouvi que O sol é para todos conta a história de um advogado branco que “aceita” defender um homem negro acusado de estuprar uma jovem branca. Isso se torna muito conflitante devido à sociedade racista da época.
Diante dessa definição eu iniciei a leitura com uma expectativa, mas me deparei com uma história totalmente diferente do que imaginei.
O livro é narrado pela garotinha Scout, no começo da história ela tem somente seis anos e no final nove. Scout narra a rotina de um ambiente rural e pacato: as férias de verão com o irmão Jem e o amigo Dill, o início das aulas, a curiosidade com os vizinhos, as travessuras do trio e a vida em família. A história se passa em uma cidade fictícia chamada Maycomb; porém, ao pesquisar sobre a autora desse clássico, Harper Lee, podemos observar que a cidade na qual ela cresceu tem traços muitos parecidos com Maycomb. Além disso, o pai da autora também era advogado e até sofreu retaliações ao defender negros. Entendemos que O sol é para todos só pode ter sido baseado na vida da própria autora.
A primeira parte, a princípio, me decepcionou um pouco; digamos que – a leitura demorou a engrenar. Mas, quando li o livro todo eu encarei a primeira parte com outros olhos e não somente como a história de uma comunidade sobre o ponto de vista de uma criança.
Notamos o preconceito logo no início da narrativa, não estou falando sobre o preconceito racial somente, mas de muitos outros. Um exemplo disso é todo mito criado em torno da vida de um morador de Maycomb chamado Boo Radley, um homem que vive trancado dentro de sua própria casa e não sai de lá pra nada. O estilo de vida escolhido pelo vizinho faz com que as pessoas criem várias histórias a respeito dele. As crianças têm medo até mesmo de passarem em frente à casa dos Radley.
E quantos de nós não julgamos ou estereotipamos alguém? Ou ainda, quantos de nós não somos isolados ou julgados por sermos diferentes da maioria em alguma posição ou em algum aspecto? A leitura de O sol é para todos nos faz refletir sobre esses pontos tão importantes.
O leitor é inserido no cotidiano de Maycomb, uma cidade sulista, nos anos 30. Que mesmo após o fim da escravidão no país, a maioria das pessoas não trata o negro como alguém igual. E, apesar de já na leitura da primeira parte notarmos que estamos diante de uma cidade preconceituosa, é na segunda parte da narrativa que observamos de fato o racismo.
Estamos falando de uma época na qual o racismo era tão forte que havia segregação da sociedade negra; e até mesmo as igrejas eram separadas: igreja pra branco e igreja pra negro. Sentimos horror ao ler isso, porque sabemos que realmente pessoas sofreram muito; e, que pior ainda – O racismo e o preconceito de um modo geral, ainda têm voz.
O pai de Scout, Atticus, é um viúvo que cria o casal de filhos com a ajuda da empregada negra, Calpurnia. Atticus é um personagem incrível! Alguém que sempre tenta colocar-se no lugar do outro e passa esse conceito aos seus filhos. A conversa entre o pai e os filhos são repletas de ensinamentos que nos fazem refletir.
“Ainda que tenhamos perdido antes mesmo de começar, não significa que não devemos tentar – ponderou Atticus.” (Pág. 102)
O advogado Atticus é colocado para defender Tom Robinson (negro acusado de estuprar uma jovem branca). A família de Atticus também sofre preconceitos pelo fato do advogado ter aceitado efetuar a defesa. Scout, com toda inocência de criança não entende muitas vezes o porquê das pessoas criticarem o pai. Ela também o questiona sobre a escolha de defender o homem, já que isso estava causando-lhe alguns transtornos. E a resposta de Atticus aos questionamentos da menina só faz com que nós, leitores, nos apaixonemos ainda mais por ele.
“Scout, eu não poderia ir à igreja e louvar a Deus se não tentasse ajudar esse homem... antes de ser obrigado a viver com os outros, tenho que conviver comigo mesmo.” (Pág. 135)
Mesmo sabendo que a chance de ele conseguir provar a inocência de Tom Robinson era quase nula, Atticus não desistiu do caso. A ideologia do advogado é que todos os homens são iguais e devem ser julgados de forma justa. Mas, não é isso que ele vivencia nos tribunais de Maycomb.
“Nos nossos tribunais, quando se trata da palavra de um branco contra a de um negro, o branco sempre vence. É horrível, mas é a vida.” (Pág, 275)
Será que a nossa sociedade é totalmente diferente de Maycomb? Responda você essa pergunta, querido leitor.
Um livro repleto de ensinamentos. Um livro que foi escrito no começo da década de 60; e, ainda hoje, mais de cinquenta anos depois, tem temas tão contemporâneos.
O que mais aprendi com essa leitura foi ter empatia pelo outro, ter a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa. É difícil, mas não é impossível. Precisamos, ao menos, tentar.
“... a gente só conhece uma pessoa de verdade quando se coloca no lugar dela e fica lá um tempo." (Pág. 347)