Literatura e a nossa Língua Portuguesa (o que mais amamos)


A CIDADE DO SOL - khaled Hosseini

07/09/2016 23;20

Resenha de A cidade do Sol

 

Geralmente os blogueiros resenham os livros do momento; e, dificilmente alguém deseja resenhar um livro que já leu há algum tempo. Porém, eu não poderia deixar de resenhar e assim incentivar a leitura desta história que nunca saiu do meu coração. A cidade do sol me fez agradecer muito a Deus por ter nascido no Brasil.

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  Título: A Cidade do sol

  Autor: Khaled Hosseini

  Editora: Nova Fronteira

  Páginas: 364

  Classificação da leitura:

 

 

A cidade do sol conta a história de Mariam e Laila. Duas mulheres muito diferentes que se encontram em meio ao caos da intolerância, das tradições distorcidas, da guerra contra tudo o que genuinamente somos. São protagonistas unidas para sempre pelo desejo de superar o sofrimento e o medo, vencer a opressão e encontrar a felicidade. Um desejo sem cor, sexo, raça ou credo.

Na primeira parte do livro somos apresentados a Mariam ainda na infância. Uma infância isolada. Mariam crescera em um casebre distante de tudo e de todos, vivia com sua mãe. O pai de Mariam, Jalil, só ia vê-la uma vez por semana. A menina sentia-se muito feliz às quintas-feiras quando ouvia lindas histórias de seu pai. Contudo, a mãe de Mariam sempre alertava a filha para que não tivesse esperanças em relação ao seu pai. Pois, ela era uma harami – palavra que no Afeganistão significa bastarda. E, a vida de Mariam ou a presença dela era uma vergonha para o seu pai, por isso o isolamento.

 

“Jalil tinha três esposas e nove filhos, nove filhos legítimos, e Mariam não conhecia nenhum deles. Era um dos homens mais ricos de Herat. Era dono de um cinema que Mariam jamais tinha visto ...” (Pág. 11)

 

Mariam sonhava em ir à escola, mas a mãe nunca iria permitir, pois temia que a filha sofresse discriminação. A amargura da mãe é notada em cada palavra proferida por ela. Ela e a filha viviam sem esperança.

 

“– É isso que a vida reserva para nós, Mariam – acrescentou. – Para as mulheres como nós. E suportamos. E temos de suportar. Está me entendendo? Além do mais, vão rir de você na escola. Vão sim. Vão chamá-la de harami. Vão dizer coisas horríveis ao seu respeito. Não vou permitir isso.” (Pág. 23)

 

Mariam tinha esperança que seu pai permitisse que ela vivesse com ele na cidade. E um dia decidiu fugir de casa e procurar pelo pai, mas, Jalil nem recebeu a filha, ela ficou na calçada horas e horas esperando. Muito triste e decepcionada a menina (com quinze anos na época) retornou ao casebre, mas foi surpreendida por uma cena terrível: sua mãe havia se enforcado.

O sofrimento de Mariam estava só no começo, pois o pai ao invés de amparar a filha a obrigou a casar-se com um homem muito mais velho. Toda inocência da menina foi roubada da pior maneira possível. Sofri junto com a Mariam ao ler cada linha dessa linda narrativa.

Para nós, brasileiros, é um choque saber como vivem as mulheres no Afeganistão.  Por esse motivo que a leitura de A cidade do sol é tão densa, pois apesar de as personagens Mariam e Laila não existirem a situação contada no livro é real. As mulheres sofrem muito, e saber que existem muitas Lailas e Marians por aí machuca o nosso coração quando lemos. O livro é muito triste, mas tem muitos momentos de esperança também.

A forma que o marido trata Mariam faz com que desejemos entrar no livro e esmagar aquele homem cruel.

 

“Quando pensava no bebê, seu coração crescia no peito, crescia e crescia até que todas as tristezas, as dores, a solidão e o sentimento de inferioridade que haviam povoado a sua vida desapareciam por completo.” (Pág. 82)

 

Na segunda parte do livro conhecemos Laila e nos apaixonamos por ela logo de cara. Uma criança alegre e uma adolescente à frente do seu tempo. Laila tem pais e irmãos e uma família normal, mas a guerra mudará a vida da jovem para sempre.

Conhecemos a infância de Laila e amizade dela com o menino Tariq (que personagem maravilhoso!) O amor que Laila sempre sentiu por Tariq fez com ela sofresse menos com a morte dos irmãos.

 

“Ficou sentada ali, ao lado da mãe, respeitando zelosamente o luto, por Ahmad e Noor, mas, lá no fundo de seu coração, sabia que o seu verdadeiro irmão estava vivo e bem.” (Pág. 125)

 

Ver o amor dos dois nascer é uma parte muito gostosa da leitura.

 

“Ele chegou mais perto e suas mãos se tocaram uma vez, e outra mais. Quando, com alguma hesitação, os dedos de Tariq tentaram segurar os seus, ela deixou. E, quando ele se inclinou subitamente e encostou os lábio nos seus, ela também deixou. (Pág. 155.)

 

Enquanto estamos lendo sobre Laila ficamos pensando como será possível a vida dela se entrelaçar com a vida de Mariam, não posso dizer como isso ocorrerá porque seria um spoiler, mas posso dizer que é de uma forma que nunca eu poderia imaginar. Ambas passarão a viver e a lutar pela sobrevivência juntas em uma amizade emocionante.  São os momentos mais bonitos do livro.

A força de Mariam e Laila é arrebatadora. A esperança de vencer em meio a um país sem perspectiva nenhuma para mulheres como elas faz com que essa leitura seja simplesmente: incrível!

 

"Em poucos anos, essa menina vai ser uma mulher que pede muito pouco da vida, que nunca incomoda ninguém, nunca deixa transparecer que ela também tem tristezas, desapontamentos, sonhos que foram menosprezados. Uma mulher que vai ser como uma rocha no leito de um rio, suportando tudo sem se queixar. Uma mulher cuja generosidade, longe de ser contaminada, foi forjada pelas turbulências que se abateram sobre ela." (Pág. 353)

 

Deu vontade de ler outra vez!